sexta-feira, 26 de maio de 2017

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL: da teoria à prática



1. Relações coesivas e coerência textual

A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (os PCN), quanto aos conteúdos de ensino da Língua Portuguesa no 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental, inicia-se pela apresentação de uma tabela intitulada "Gêneros privilegiados para a prática da escrita e da leitura de textos", seguidas dos objetivos específicos a serem trabalhados. Em seguida, é apresentada uma segunda tabela, intitulada "Gêneros sugeridos para a prática de produção de textos orais e escritos."

Examinam-se duas tabelas, verifica-se que o texto, é apresentado ora como ponto de partida, ora como ponto de chegada. 

A noção de coerência textual, referere-se justamente ao conjunto elações formais, semânticas e pragmáticas que, identificadas pelo receptor em confronto com o seu conhecimento prévio, permitem a construção deste sentido global. 

A progressão temática é assegurada pela referência, a cada oração ou frase, a novos fatos ou seres, relacionados de algum modo aos que já foram mencionados. 

A boa formação textual requer o equilíbrio entre a apresentação de uma formação considerada nova e a repetição ou representação de informações já fornecidas pelo texto ou pelo contexto. 


2. Proposta de classificação dos componentes da coesão textual

2.1 - Anáforas nominais

Podemos considerar que as anáforas nominais - ou seja, os procedimentos de retomada de um referente através de sintagmas nominais cujo o núcleo é um nome - podem ser: 

  •  Anáforas nominais por substituição
  •  Anáforas nominais por repetição


2.2 - Anáforas pronominais

A função dêitica ou exofórica é característica dos pronomes que "apontam" algo fora do texto - isto é, referem-se a coisas ou seres cuja a identificação depende do contexto extra-linguístico. 


2.2.1 - Anáforas pronominais por substituição 

Uma anáfora pronominal pode retomar uma informação expressa por um segmento textual mais completo do que um sintagma nominal. 


2.2.2 - Anáforas pronominais por repetição

Este tipo de anáfora pronominal normalmente só ocorre em transcrições de textos orais.


2.2.3 - Anáforas por elipse pronominal


2.3 - Catáforas

2.3.1 - Catáfora pronominal

Dá-se o nome de catáfora a esse tipo de construção pronominal que antecipa a introdução de um informação nova no discurso, produzindo um efeito de ênfase. 


2.3.2 - Catáfora nominal 

No processo de interpretação, funcionam como fios condutores que permitem a apreensão do texto como um todo coerente, em confronto com o conhecimento prévio do receptor.


Propor atividades de análise que levem o aluno a percorrer o texto com base nas redes coesivas que o compõem, ultrapassando o nível da frase por certo contribuirá para o desenvolvimento de estratégias de leitura global.




CORRÊA, Ângela M. S. e CUNHA, Tânia Reis. (UFRJ).

ANÁLISE DE TEXTOS: Fundamentos e práticas



CAPÍTULO 2 

NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO E SUAS PROPRIEDADES

2.1 O conceito de textualidade

Como fundamento para a compreensão do que é o texto, tem-se desenvolvido o conceito de textualidade, a qual pode ser entendida como a característica estrutural das atividades sociocomunicativas (e, portanto, também linguísticas) executadas entre os parceiros da comunicação.

Fazer da textualidade o objeto de ensino, é uma questão de assumir a textualidade como o princípio que manifesta e que regula as atividades de linguagem. 

2.2 O conceito de texto

O mais consensual tem sido admitir que um conjunto aleatório de palavras ou de frases não constitui um texto. Por mais que esteja fora dos padrões considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situações de comunicação, são sempre textos. 

2.2.1 Primeiramente, poderíamos começar por lembrar que recorremos a um texto quando temos alguma pretensão comunicativa e a queremos expressar. O sucesso de nossa atuação comunicativa está, sobretudo, na identificação dessa intenção por parte do interlocutor com quem interagimos.

2.2.2 Um segundo aspecto que deriva desse primeiro ponto é o fato de que o texto, como expressão verbal de uma atividade social de comunicação, envolve, sempre, um parceiro, um interlocutor. 

2.2.3 Um terceiro aspecto a se considerar sumariamentediz respeito ao fato de que o texto é caracterizado por uma orientação temática. 

Nenhum texto, como sabemos, ocorre no vazio, em abstrato, fora de um contexto sociocultural determinado. Todo ele está ancorado numa situação concreta ou, melhor dizendo, está inserido num contexto social qualquer. 

Retomando o absolutamente básico para a compreensão das quatro propriedades, lembramos os seguintes pontos:
  • a coesão concerne aos modos e recursos - gramaticais e lexicais;
  • a coerência concerne um outro tipo de encadeamento, o encadeamento de sentido, a convergência conceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade - local e global;
  • a informatividade concerne ao grau de novidade, de imprevisibilidade que, em um certo contexto comunicativo, o texto assume;
  • a intertextualidade concerne ao recurso de inserção, de entrada, em um texto particular, de outro (s) texto (s) já em circulação.

O texto é um traçado que envolve material linguístico, faculdades e operações cognitivas, além de diferentes fatores de ordem pragmática ou textual.
O conjunto de propriedades que mencionamos possibilita-nos olhar para o texto - seja do aluno, seja de um outro autor - e perceber aí, por exemplo:
  • recursos de sua coesão;
  • fatores (explícitos e implícitos) de sua coerência (linguística e pragmática);
  • pistas de sua concentração temática;
  • aspectos de sua relevância sociocomunicativa;
  • traços de intertextualidade;
  • critérios de escolhas das palavras;
  • sinais das intenções pretendidas;
  • marcas da posição do autor em relação ao que é dito;
  • estratégias de argumentação ou de convencimento;
  • efeitos de sentido decorrentes de um jogo qualquer de palavras;
  • adequação do estilo e do nível de linguagem, entre muitos outros elementos. 

2.2.4 Merecem um comentário também dois aspectos do texto: 

a) a modalidade - falada ou escrita;
b) e a extensão em que ele se realiza. 

Para o processamento textual, em hora de fala ou de escrita, de escuta ou de leitura, ativamos quatro grandes conjuntos de conhecimento, a saber:
  • o conhecimento linguístico (compreendendo aqui o lexical e o gramatical);
  • o conhecimento de mundo, o conhecimento geral;
  • o conhecimento referente a modelos globais de texto;
  • o conhecimento sociointeracional, ou o conhecimento sobre as ações verbais. 

2.2.5 Em geral, os diferentes contextos sociais - os chamados domínios discursivos - são marcados por determinadas rotinas comunicativas, pois, costumeiramente, utilizam um mesmo conjunto de gêneros. 
O exercício de formar frases serve para isso mesmo: aprender a formar frases soltas, o que equivale a atrofiar o conhecimento explícito do que se deve fazer para interagir verbalmente.




ANTUNES, Irandé, 1937 - Análise de textos: fundamentos e práticas. - São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 

sábado, 20 de maio de 2017

LEITURA, SISTEMAS DE CONHECIMENTOS E PROCESSAMENTO TEXTUAL

LEITURA, SISTEMAS DE CONHECIMENTOS E PROCESSAMENTO TEXTUAL


Na atividade de leitura e produção de sentido, colocamos em ação várias estratégias sociocognitivas. 
  • Conhecimento linguístico;
  • Conhecimento enciclopédico;
  • Conhecimento interacional.

Conhecimento linguístico

Abrange o conhecimento gramatical e lexical. Baseados nessse tipo de conhecimnto, podemos compreender: a organização do material linguístico na superfície textual. 

Conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo

Refere-se a conhecimentos gerais sobre o mundo - uma espécie de tbesaurus mental - bem como a conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-temporalmente situados, permitindo a produção de sentidos. A leitura dinâmica é um método caracterizado por técnicas que propiciam uma leitura com mais rapidez. 

Conhecimento interacional

Refere-se a forma de interação por meio da linguagem e engloba os conhecimentos:

  • ilocucional;
  • comunicacional;
  • metacomunicativo;
  • superestrutural.
  1. Conhecimento ilocucional
Permite-nos reconhecer os objetivos ou propósitos pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional.

      2. Conhecimento comunicacional

Diz respeito à:
  • Quantidade de informação necessária, numa situação comunicativa concreta, para que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção do texto;
  • Seleção da variante linguística adequada a cada situação de interação;
  • Adequação do gênero textual. 
       3. Conhecimento metacomunicativo

É aquele que permite ao locutor assegurar a compreensão do texto e conseguir a aceitação pelo parceiro dos objetivos com que é produzido. Para tanto, utiliza-se de vários tipos de ações linguísticas configuradas no texto por meio da introdução de sinais de articulação ou apoios textuais, atividades de formulação ou construção textual. 

       4. Conhecimento superestrutural ou conhecimento sobre gêneros textuais

Permite a identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida social. Envolve também conhecimentos sobre as macrocategorias ou unidades globais que distiguem vários tipos de textos, bem como sobre a ordenação ou sequenciação textual em conexão com os objetivos pretendidos. 

Os conjuntos de conhecimentos, socioculturalmente determinados e vivencialmente adiquiridos, sobre como agir em situações particulares e realizar atividades especifícas vêm a constituir o que chamamos de "frames", "modelos episódicos" ou "modelos de situação." 

Esses modelos são, inicialmente particulares, por resultarem de experiências do dia-a-dia, e determinados espácio-temporalmente, mas generalizam-se após várias experiências do mesmo tipo, acabando por tornarem-se comum aos membros de uma cultura ou de determinado grupo social. 

Os modelos são constitutivos do contexto, no sentido em que hoje é entendido no interior da Linguística Textual. 



KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto. - 2. ed. 1ª reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2007.