quinta-feira, 8 de junho de 2017

PRINCIPAIS TRABALHOS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS




4. PRINCIPAIS TRABALHOS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS


4.1 ARTIGO CIENTÍFICO

O artigo científico é um texto destinado à publicação que é muito elaborado por alunos de graduação e, mais especialmente, de pós-graduação. 

4.1.1 Tipos de artigos

Há dois tipos de artigo científico:
  • Artigo original: o autor (perquisador)pretende responder a uma pergunta (problema);
  • Artigo de revisão: é uma produçaõ que resume, analisa e discute informações já publicadas. 

4.1.2 A estrutura do artigo 

Os elementos estruturais do artigo são:
  • Parte pré-textual;
  • Parte textual:
  • Parte pós-textual

4.1.3 A organização textual do artigo

Embora a ABNT não padronize o tamanho de um artigo científico, é comum que seus elementos pré textuais e pós-textuais apresentem entre 10 e 15 páginas, divididas em tópicos apresentados sequencialmente, sem mudar de página.

4.1.3.1 Organização textual de um artigo original

Essa modalidade de artigo, cuja finalidade é responder a uma questão que demanda dados originais, coletados por meio de entrevistas, documentos, etc. 


a) Proposta estrutural para um artigo original

1 - Introdução;
2 - Referencial teórico;
3 - Metodologia da pesquisa;
4 - Apresentação e análise de dados;
5 - Considerações finais.


4.1.3.2 Organização textual de um artigo de revisão 

Antes de apresentarmos uma proposta de organização estrutural de um artigo de revisão, é necessário lembrar que há várias formas de se realizar essa pesquisa. Há as revisões de narrativas convencionais e as de métodos mais rigorosos.


a) Proposta estrutural para um arttigo de revisão convencional

1 - Introdução
2 - Desenvolvimento;
3 - Discussão;
4 - Considerações finais.


b) Proposta estrutural para um artigo de revisão rigorosa

1 - Introduçaõ;
2 - Metodologia da pesquisa;
3 - Revisão quantitativa, qualitativa ou sistemática;
4 - Discussão dos resultados;
5 - Considerações finais. 


4.1.4 Formatação do artigo

Embora a NBR não estabeleça limites para o tamanho do texto, os periódicos e instituições de pesquisa o fazem.


4.2 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

A comunicação científica é parte contitutiva da atividade científica. É o momento em que o pesquisador apresenta e submete o seu trabalho à comunidade epistemológica, a fim de receber o aval de sua pesquisa. 


4.2.1 Formas de comunicação científica

  • Formal;
  • Informal.

4.4 DISSERTAÇÃO

Documento que descreve um trabalho de pesquisa, demonstrando sólidos conhecimentos sobre a área de estudos a que se dedica.

4.4.1 Os enfoques da dissertação

  • A dissertação com enfoque teórico;
  • A dissertação com enfoque em dados empíricos;
  • A dissertação com enfoque em discussão filosófica;
  • A dissertação com enfoque crítico. 

4.4.2 A estrutura da dissertação

Seguindo os preceitos da ABNT/NBR 14724, a dissertação apresenta todos os elementos de um trabalho acadêmico de largo fôlego.

4.4.2.1 Organização textual da dissertação

a) na introdução;
b) no desenvolvimento;
c) nas considerações finais.

4.5 ENSAIO CIENTÍFICO

É um texto dissertativo-argumentativo, problematizador, formal, original, que surge de reflexões e estudos e que discute um tema. Pode ser classificado como:
  • Ensaio formal;
  • Ensaio informal.

4.5.1 Tipos de ensaio

  • ensaio empírico;
  • ensaio teórico;
  • ensaio analítico ou filosófico;
  • ensaio descritivo ou histórico.

4.5.2 A estrutura do ensaio científico

  • parte pré-textual;
  • parte textual;
  • parte pós-textual.

4.6 FICHAMENTO

Constitui uma das técnicas de documentação do pesquisador.


4.6.1 Tipos de fichamento de leitura

  • Fichamento de citação;
  • Fichamento de conteúdo ou de resumo;
  • Ficha analítica ou de comentário.


4.6.2 Estrutura de um fichamento

  • Parte pré-textual;
  • Parte textual;
  • Parte pós-textual.


4.7 INFORME CIENTÍFICO

Trata-se de um relato escrito com o objetivo de divulgar os resultados parciais ou totais de pesquisas, as descobertas realizadas, as dificuldades encontradas ou previstas, os primeiros resultados de uma investigação em curso etc.

4.7.1 Estrutura do informe científico

  • Parte pré-textual;
  • Parte textual;
  • Parte pós-textual. 


4.8 INVENTÁRIO ACADÊMICO

Inventário é, nas acepções dicionarizadas, descrever minuciosamente, relacionar, registrar, catalogar algo. 

4.8.1 Metodologia para a construção de um inventário

Do ponto de vista metodológico, um inventário é caracterizado como uma pesquisa de finalidades exploratória e descritiva. 

4.8.2 Estrutura proposta para um inventário

  • Parte pré-textual;
  • Parte textual;
  • Parte pós-textual.


4.9 MAPA CONCEITUAL

É um gênero textual, com estrutura esquemática variada e bastante visual. 

4.9.1 Tipos de mapa conceitual

  • Mapa conceitual em chaves;
  • Mapa conceitual em numeração progressiva;
  • Mapa conceitual em gráfico ou fluxograma.

4.9.2 Estrutura do mapa conceitual

A sua estrutura se erradia a partir de uma ideia, um conceito, uma tese ou um conteúdo, sendo que a particularidade de cada texto e que define a melhor forma para o esquema.


4.10 MEMORIAL

O memorial é um exercício autobiográfico que, ao mesmo tempo, apresenta a narrativa da história e a reflexão sobre ela.


4.10.1 Características textuais e discursivas

O memorial é escrito em primeira pessoa, devendo sintetizar aqueles momentos menos marcantes e desenvolver aqueles mais significativos.

4.10.3 Estrutura e formatação

a) Os elementos textuais do memorial
  • introdução;
  • desenvolvimento;
  • conclusão.

b) Elementos pós-textuais

São contituídas práticamente pelas referências bibliográficas.

4.19 RESENHA

É o texto que relata a descrição técnica, a síntese do conteúdo e a análise crítica de uma obra (artística, esportiva, literária, científica...).

4.19.1 Tipos de resenhas

  • resenha descritiva;
  • resenha crítico-descritiva.

4.19.2 A estrutura da resenha

  • Parte pré-textual;
  • Parte Textual;
  • Parte pós-textual.

4.20 RESUMO

É a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto.

4.20.1 Tipos de resumo

  • resumo descritivo ou indicativo;
  • resumo informativo ou analítico;
  • resumo crítico.

4.20.2 Estrutura do resumo

  • Parte pré-textual;
  • Parte textual;
  • Parte pós-textual.

4.21 RESUMO HOMOTÓPICO

É um resumo informativo que compõe a parte pré-estrutural de trabalhos científicos como:artigos, relatórios, monografias, dissertações e teses, revelando a sua essência. 






BRASILEIRO, Ada Magaly Matias. Manual de produção de textos acadêmicos e científicos. São Paulo: Atlas, 2013. 



sexta-feira, 26 de maio de 2017

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL: da teoria à prática



1. Relações coesivas e coerência textual

A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (os PCN), quanto aos conteúdos de ensino da Língua Portuguesa no 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental, inicia-se pela apresentação de uma tabela intitulada "Gêneros privilegiados para a prática da escrita e da leitura de textos", seguidas dos objetivos específicos a serem trabalhados. Em seguida, é apresentada uma segunda tabela, intitulada "Gêneros sugeridos para a prática de produção de textos orais e escritos."

Examinam-se duas tabelas, verifica-se que o texto, é apresentado ora como ponto de partida, ora como ponto de chegada. 

A noção de coerência textual, referere-se justamente ao conjunto elações formais, semânticas e pragmáticas que, identificadas pelo receptor em confronto com o seu conhecimento prévio, permitem a construção deste sentido global. 

A progressão temática é assegurada pela referência, a cada oração ou frase, a novos fatos ou seres, relacionados de algum modo aos que já foram mencionados. 

A boa formação textual requer o equilíbrio entre a apresentação de uma formação considerada nova e a repetição ou representação de informações já fornecidas pelo texto ou pelo contexto. 


2. Proposta de classificação dos componentes da coesão textual

2.1 - Anáforas nominais

Podemos considerar que as anáforas nominais - ou seja, os procedimentos de retomada de um referente através de sintagmas nominais cujo o núcleo é um nome - podem ser: 

  •  Anáforas nominais por substituição
  •  Anáforas nominais por repetição


2.2 - Anáforas pronominais

A função dêitica ou exofórica é característica dos pronomes que "apontam" algo fora do texto - isto é, referem-se a coisas ou seres cuja a identificação depende do contexto extra-linguístico. 


2.2.1 - Anáforas pronominais por substituição 

Uma anáfora pronominal pode retomar uma informação expressa por um segmento textual mais completo do que um sintagma nominal. 


2.2.2 - Anáforas pronominais por repetição

Este tipo de anáfora pronominal normalmente só ocorre em transcrições de textos orais.


2.2.3 - Anáforas por elipse pronominal


2.3 - Catáforas

2.3.1 - Catáfora pronominal

Dá-se o nome de catáfora a esse tipo de construção pronominal que antecipa a introdução de um informação nova no discurso, produzindo um efeito de ênfase. 


2.3.2 - Catáfora nominal 

No processo de interpretação, funcionam como fios condutores que permitem a apreensão do texto como um todo coerente, em confronto com o conhecimento prévio do receptor.


Propor atividades de análise que levem o aluno a percorrer o texto com base nas redes coesivas que o compõem, ultrapassando o nível da frase por certo contribuirá para o desenvolvimento de estratégias de leitura global.




CORRÊA, Ângela M. S. e CUNHA, Tânia Reis. (UFRJ).

ANÁLISE DE TEXTOS: Fundamentos e práticas



CAPÍTULO 2 

NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE O TEXTO E SUAS PROPRIEDADES

2.1 O conceito de textualidade

Como fundamento para a compreensão do que é o texto, tem-se desenvolvido o conceito de textualidade, a qual pode ser entendida como a característica estrutural das atividades sociocomunicativas (e, portanto, também linguísticas) executadas entre os parceiros da comunicação.

Fazer da textualidade o objeto de ensino, é uma questão de assumir a textualidade como o princípio que manifesta e que regula as atividades de linguagem. 

2.2 O conceito de texto

O mais consensual tem sido admitir que um conjunto aleatório de palavras ou de frases não constitui um texto. Por mais que esteja fora dos padrões considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou escrevemos, em situações de comunicação, são sempre textos. 

2.2.1 Primeiramente, poderíamos começar por lembrar que recorremos a um texto quando temos alguma pretensão comunicativa e a queremos expressar. O sucesso de nossa atuação comunicativa está, sobretudo, na identificação dessa intenção por parte do interlocutor com quem interagimos.

2.2.2 Um segundo aspecto que deriva desse primeiro ponto é o fato de que o texto, como expressão verbal de uma atividade social de comunicação, envolve, sempre, um parceiro, um interlocutor. 

2.2.3 Um terceiro aspecto a se considerar sumariamentediz respeito ao fato de que o texto é caracterizado por uma orientação temática. 

Nenhum texto, como sabemos, ocorre no vazio, em abstrato, fora de um contexto sociocultural determinado. Todo ele está ancorado numa situação concreta ou, melhor dizendo, está inserido num contexto social qualquer. 

Retomando o absolutamente básico para a compreensão das quatro propriedades, lembramos os seguintes pontos:
  • a coesão concerne aos modos e recursos - gramaticais e lexicais;
  • a coerência concerne um outro tipo de encadeamento, o encadeamento de sentido, a convergência conceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade - local e global;
  • a informatividade concerne ao grau de novidade, de imprevisibilidade que, em um certo contexto comunicativo, o texto assume;
  • a intertextualidade concerne ao recurso de inserção, de entrada, em um texto particular, de outro (s) texto (s) já em circulação.

O texto é um traçado que envolve material linguístico, faculdades e operações cognitivas, além de diferentes fatores de ordem pragmática ou textual.
O conjunto de propriedades que mencionamos possibilita-nos olhar para o texto - seja do aluno, seja de um outro autor - e perceber aí, por exemplo:
  • recursos de sua coesão;
  • fatores (explícitos e implícitos) de sua coerência (linguística e pragmática);
  • pistas de sua concentração temática;
  • aspectos de sua relevância sociocomunicativa;
  • traços de intertextualidade;
  • critérios de escolhas das palavras;
  • sinais das intenções pretendidas;
  • marcas da posição do autor em relação ao que é dito;
  • estratégias de argumentação ou de convencimento;
  • efeitos de sentido decorrentes de um jogo qualquer de palavras;
  • adequação do estilo e do nível de linguagem, entre muitos outros elementos. 

2.2.4 Merecem um comentário também dois aspectos do texto: 

a) a modalidade - falada ou escrita;
b) e a extensão em que ele se realiza. 

Para o processamento textual, em hora de fala ou de escrita, de escuta ou de leitura, ativamos quatro grandes conjuntos de conhecimento, a saber:
  • o conhecimento linguístico (compreendendo aqui o lexical e o gramatical);
  • o conhecimento de mundo, o conhecimento geral;
  • o conhecimento referente a modelos globais de texto;
  • o conhecimento sociointeracional, ou o conhecimento sobre as ações verbais. 

2.2.5 Em geral, os diferentes contextos sociais - os chamados domínios discursivos - são marcados por determinadas rotinas comunicativas, pois, costumeiramente, utilizam um mesmo conjunto de gêneros. 
O exercício de formar frases serve para isso mesmo: aprender a formar frases soltas, o que equivale a atrofiar o conhecimento explícito do que se deve fazer para interagir verbalmente.




ANTUNES, Irandé, 1937 - Análise de textos: fundamentos e práticas. - São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 

sábado, 20 de maio de 2017

LEITURA, SISTEMAS DE CONHECIMENTOS E PROCESSAMENTO TEXTUAL

LEITURA, SISTEMAS DE CONHECIMENTOS E PROCESSAMENTO TEXTUAL


Na atividade de leitura e produção de sentido, colocamos em ação várias estratégias sociocognitivas. 
  • Conhecimento linguístico;
  • Conhecimento enciclopédico;
  • Conhecimento interacional.

Conhecimento linguístico

Abrange o conhecimento gramatical e lexical. Baseados nessse tipo de conhecimnto, podemos compreender: a organização do material linguístico na superfície textual. 

Conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo

Refere-se a conhecimentos gerais sobre o mundo - uma espécie de tbesaurus mental - bem como a conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-temporalmente situados, permitindo a produção de sentidos. A leitura dinâmica é um método caracterizado por técnicas que propiciam uma leitura com mais rapidez. 

Conhecimento interacional

Refere-se a forma de interação por meio da linguagem e engloba os conhecimentos:

  • ilocucional;
  • comunicacional;
  • metacomunicativo;
  • superestrutural.
  1. Conhecimento ilocucional
Permite-nos reconhecer os objetivos ou propósitos pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional.

      2. Conhecimento comunicacional

Diz respeito à:
  • Quantidade de informação necessária, numa situação comunicativa concreta, para que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção do texto;
  • Seleção da variante linguística adequada a cada situação de interação;
  • Adequação do gênero textual. 
       3. Conhecimento metacomunicativo

É aquele que permite ao locutor assegurar a compreensão do texto e conseguir a aceitação pelo parceiro dos objetivos com que é produzido. Para tanto, utiliza-se de vários tipos de ações linguísticas configuradas no texto por meio da introdução de sinais de articulação ou apoios textuais, atividades de formulação ou construção textual. 

       4. Conhecimento superestrutural ou conhecimento sobre gêneros textuais

Permite a identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida social. Envolve também conhecimentos sobre as macrocategorias ou unidades globais que distiguem vários tipos de textos, bem como sobre a ordenação ou sequenciação textual em conexão com os objetivos pretendidos. 

Os conjuntos de conhecimentos, socioculturalmente determinados e vivencialmente adiquiridos, sobre como agir em situações particulares e realizar atividades especifícas vêm a constituir o que chamamos de "frames", "modelos episódicos" ou "modelos de situação." 

Esses modelos são, inicialmente particulares, por resultarem de experiências do dia-a-dia, e determinados espácio-temporalmente, mas generalizam-se após várias experiências do mesmo tipo, acabando por tornarem-se comum aos membros de uma cultura ou de determinado grupo social. 

Os modelos são constitutivos do contexto, no sentido em que hoje é entendido no interior da Linguística Textual. 



KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto. - 2. ed. 1ª reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2007. 

sexta-feira, 28 de abril de 2017

ENSINO DO LÉXICO: Seleção e Adequação ao contexto


INTRODUÇÃO

A prática da seleção lexical deve ter como meta a adequação dos termos à situação comunicativa, permitindo assim, que o texto reflita suas condições sociais e históricas.

1. ESCOLHA LEXICAL: processos de adequação vocabular

Vamos focalizar o conceito de seleção e adequação vocabular, que se relaciona com a pertinência do léxico ao contexto comunicativo. No princípio da aceitabilidade social, um contrato tácito entre os comunicantes das convenções linguísticas que determinam as formas mais produtivas dos modelos de gêneros textuais. 

1.1 A noção de correto e o incorreto em linguagem

A ideia de relação social pressupõe sempre uma norma comum a quem fala ou escreve, e a quem ouve ou lê. A língua é um Sistema, ou Código Social, formado por um conjunto de regras "obrigatórias" que garantem a sua unidade, através dos tempos, mas que possui vários subcódigos, ou subconjuntos de normas de realização, que se interpenetram e, por isso, prevêem variedades de usos linguísticos, considerados válidos desde que estejam adequados a diferentes situações de formalidade ou informalidade e sejam aceitos como tais, em uma mesma coletividade.

1.2 O conceito do "erro"como inadequação vocabular

Quando se tratar de um texto escrito, cujo o padrão é a norma considerada formal, a exigência de um modelo é justificada. A desobediência dos padrões estabelecidos podem trazer sérias consequências para o Autor do texto, inclusive a desqualificação de sua imagem social. Escrever de acordo com as regras vigentes é passaporte de garantia social.

2. SELEÇÃO E ADEQUAÇÃO LEXICAL

A escolha lexical adequada e a correta ligação entre as ideias são fundamentais para o êxito de um texto escrito.

2.1 Adequação ao referente externo

A linguagem  é um resultado de um processo de tentativa de trabalho da realidade externa para o mundo linguístico; é um processo discursivo que exige seleção e adequação vocabular, de acordo com as convenções previstas na Língua para a denominação dos referentes exteriores a ela.

2.2 Adequação ao contexto comunicativo

Em princípio todo vocabulário é polissêmico, isto é, ao lado de um sentido denotativo, circulam outras possibilidades conotativas e só o contexto pode evitar ambiguidade.

2.3 Adequação ao emissor e à situação interativa

Um outro critério mais apropriado ao uso mais produtivo do vocabulário é o de adequação à pessoa que fala e ao contexto social dos interlocutores, ou seja, a linguagem deve refletir a situação social retratada linguisticamente e propícia também a criação de uma imagem positiva da pessoa que usa e a atenção com que ela trata o interlocutor.

2.4 Adequação ao registro linguístico escolhido

Em termos de adequação ao registro linguístico, pode-se dizer que são as variadas situações sociais que levam o usuário a escolher um nível de linguagem. Em certas ocasiões, vocábulos considerados formais traduzem melhor uma relação social culta. Numa situação formal, a mistura de formalismo com o emprego de gírias pode soar inadequadamente.

2.5 Adequação ao gênero textual

Uma das exigências para se ter um bom texto é a sua adequação a uma tipologia de texto reconhecida por sua finalidade social. A escolha do léxico, também deve se adequar ao gênero textual escolhido e à época em que foi expresso.

2.6 Adequação espacial

Em menor grau nossas diferenças regionais também chamam a atenção, assim como um habitante da cidade difere de uma pessoa proveniente do campo, pelo de determinadas expressões comuns ao seu meio.

2.7 Adequação temporal

Ao lado da adequação espacial, merece atenção também o uso apropriado do léxico, de acordo com a época que se está representando. Quando se busca a adequação temporal, deseja-se retratar uma época que alguém fosse falar e escrever hoje, dessa forma passaria a ideia de uma pessoa ultrapassada, antiquada. Deve-se sempre adequar o linguajar à época e ao status social dos usuários.
  
 3. O LÉXICO E SUA IMPORTÂNCIA NOS MECANISMOS DE PROCESSAMENTO TEXTUAL

 Um dos problemas mais comprometedores de um texto é a inadequação lexical, que decorre da não observância de vários fatores que ligam a problemas de contexto e a fatores de ordem situacional. "Escrever bem é equilibrar a apresentação de elementos novos com elementos já conhecidos". 

3.1 Uso da sinonímia e hiperonímia

Uma das recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), para a ampliação do repertório do aluno é a prática do emprego adequado da sinonímia e da hiperonímia, que evitará a repetição viciosa de vocábulos.

3.2 Repetição inadequada de advérbios

O emprego inadequado de advérbios torna-se sem função informativa, pois reitera a mesma ideia do item anterior, promulgando a repetição desse ato adverbial.

3.3 Falta de paralelismo em construções sintáticas

Problemas de sentido na escolha do complemento do adjetivo, podem ser expressos com a falta de paralelismo entre as ideias. A soma das circunstâncias diversas projetam a construção coordenada num mesmo nível de distintas épocas.

3.4 Uso de verbos com sentido inadequado ao contexto técnico-formal

Um outro problema de impropriedade na construção textual consiste no uso de verbos de sentido inadequado ao contexto. O registro formal mostra preferências por certos usos já consagrados, pois traduzem maior precisão e sentido.

3.5 Texto mal estruturado, com problemas de coesão e de coerência

Inapropriadamente, o texto com ambiguidade  compromete a sua coerência e a própria construção. Desse modo, as ligações de coesão são fragmentos apontados como necessários na oração. A importância de matrizes estruturais elencam significação ao texto.

3.6 O léxico e a construção/avaliação dos referentes

Pela escolha vocabular, o autor de um texto busca expressar seu ponto de vista em relação ao mundo que o cerca, emitindo juízos de valor.

4. Conclusões

O ensino de língua materna precisa considerar a importância da aquisição e melhoria do vocabulário do aluno. A ampliação do léxico e seu adequado uso em textos pode permitir ao aluno refletir sobre os jogos de sentido estabelecidos na interação, perceber o caráter polinizador do texto na construção dos sentidos, dos recursos expressivos e dos procedimentos estratégicos usados pelo Autor, nas várias situações; tais processos são importantes decodificadores dos sentidos do texto e indispensáveis à leitura, interpretação e produção textuais.




PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino.

sexta-feira, 31 de março de 2017

DA FALA PARA A ESCRITA: Atividades de retextualização

CAPÍTULO I

ORALIDADE E LETRAMENTO

1. Oralidade e letramento como práticas sociais

 Hoje, é impossível investigar oralidade e letramento sem uma referência direta ao papel dessas duas práticas na civilização contemporânea. Considerava-se a relação oralidade e letramento como dicotômica, atribuindo-se à escrita dos valores cognitivos intrínsecos no uso da língua, não se vendo nelas duas práticas sociais. Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, ambas são suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos, exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante. Escrever pelo computador no contexto da produção discursiva dos bate-papos síncronos (on-line) é uma nova forma de nos relacionarmos com a escrita, mas não propriamente uma nova forma de escrita.
  • A fala (enquanto manifestação da prática oral) é adquirida naturalmente em contextos informais do dia-a-dia, nas relações sociais e dialógicas que se instauram desde o momento em que a mãe dá seu primeiro sorriso ao bebê.
  • A escrita (enquanto manifestação formal do letramento), em sua faceta institucional, é adquirida em contextos formais: na escola.

 

2. Presença da oralidade e da escrita na sociedade


Quanto à presença da escrita, pode-se dizer que, mesmo criada pelo engenho humano tardiamente em relação ao surgimento da oralidade, ela permeia hoje quase todas às práticas sociais dos povos em que penetrou. O letramento não é o equivalente à aquisição da escrita. A escrita é usada em contextos básicos da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade. Estes contextos são, entre outros:
  • o trabalho
  • a escola
  • o dia-a-dia
  • a família
  • a vida burocrática
  • a atividade intelectual
Devemos distinguir entre letramento, alfabetização e escolarização.
  • O letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários.
  • A alfabetização pode dar-se, como de fato se deu historicamente, à margem da instituição escolar, mas é sempre um aprendizado mediante ensino, e compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
  • A escolarização, por sua vez, é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo.
Na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a escrita são imprescindíveis. A escrita surgiu pouco mais de 3.000 anos antes de Cristo, ou seja, há 5.000 anos. No Ocidente, ela entrou por volta de 600 a. C., chegando a pouco mais de 2.500 anos hoje. A escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal e não como um bem natural.

3. Oralidade versus letramento ou fala versus escrita?

  • A Oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos, que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora;
  • O Letramento, por sua vez, envolve as mais diversas práticas da escrita na sociedade;
  • A Fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral, sem a necessidade de uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano;
  • A Escrita seria um modo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica.
Letrado é o indivíduo que participa de forma significativa de eventos de letramento, e não apenas aquele que faz um uso formal da escrita.

4. A Perspectiva das dicotomias

A primeira das tendências, a de maior tradição entre os linguistas, é a que se dedica à análise das relações entre as duas modalidades de uso da língua (fala versus escrita) e percebe sobretudo as diferenças na perspectiva da dicotomia.
Dicotomias escritas
                                         
                                        fala                                versus                    escrita
                                        contextualizada                                            descontextualizada
                                        dependente                                                   autônoma
                                        implícita                                                       explícita
                                        redundante                                                   condensada
                                        não-planejada                                               planejada
                                        imprecisa                                                      precisa
                                        não-normatizada                                           normatizada
                                        fragmentária                                                  completa

5.  A Tendência fenomenológica de caráter culturalista 


As características centrais da visão de identificar as mudanças operadas nas sociedades em que se introduziu o sistema de escrita são:
Visão culturalista
                    cultura oral                                  versus                           cultura letrada
                    pensamento concreto                                                           pensamento abstrato
                    raciocínio prático                                                                 raciocínio lógico
                    atividade artesanal                                                               atividade tecnológica
                    cultivo da tradição                                                               inovação constante
                    ritualismo                                                                             analiticidade

6. A Perspectiva variacionista


A fala e a escrita não são propriamente dois dialetos, mas sim duas modalidades de uso da língua, de maneira que o aluno, ao dominar a escrita, se torna bimodal. Fluente em dois modos de uso, e não simplesmente em dois dialetos.
A Perspectiva variacionista
fala e escrita apresentam
                                           língua padrão                       variedades não-padrão
                                           língua culta                          língua coloquial
                                           norma padrão                       normas não-padrão  

7. A Perspectiva sociointeracionista 

Este modelo de perspectiva tem a vantagem de perceber com maior clareza a língua como fenômeno interativo e dinâmico. A perspectiva internacionalista preocupa-se com os processos de produção de sentido tomando-os sempre com situados em contextos sócio-historicamente marcados por atividades de negociação ou por processos inferenciais.
Perspectiva sociointeracionista
fala e escrita apresentam
                                                            dialogicidade
                                                            usos estratégicos
                                                            funções interacionais
                                                            envolvimento
                                                            negociação
                                                            situacionalidade
                                                            coerência
                                                            dinamicidade

8. Aspectos relevantes para a observação da relação fala e escrita

A língua, seja na sua modalidade falada ou escrita, reflete, em boa medida, a organização da sociedade. Podemos observar que a construção de categorias para a reflexão teórica ou para a classificação são tanto um reflexo da linguagem como se refletem na linguagem e são sempre construídas interativamente dentro de uma sociedade.
"Oralidade e escrita são duas práticas sociais e não duas práticas de sociedades diversas. Afala tem sido vista na perspectiva da escrita e num quadro de dicotomias escritas porque predominou o paradigma teórico da análise imanente ao código." (pág.37).
A oralidade jamais desaparecerá e sempre será, ao lado da escrita, o grande meio de expressão e de atividade comunicativa.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. - 8. ed - São Paulo: Cortez, 2007.

quarta-feira, 8 de março de 2017

GRAMÁTICA E INTERAÇÃO: uma proposta para o ensino de gramática no 1° e 2° graus


1- OBJETIVOS DE ENSINO DA LÍNGUA MATERNA

Ao dar aula de uma língua para falantes nativos dessa língua é sempre preciso perguntar: "Para que se dá aulas de uma língua para seus falantes?" ou, transferindo para o nosso caso específico, "Para que se dá aulas de Português a falantes nativos de Português?"
Fundamentalmente pode-se dar a essa pergunta quatro respostas. Vamos apresentá-las, começando por aquela que julgamos fundamental por ser mais pertinente e produtiva para o ensino de Português.
  • Competência Comunicativa;
  • Norma Culta e Variedade da Escrita;
  • Conhecimento da Instituição Linguística;
  • Ensinar a Pensar e a Raciocinar no Modo Científico.

2- CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM

A concepção de linguagem é tão importante quanto a postura que se tem relativamente à educação. Normalmente tem-se levantado três possibilidades distintas de conceber a linguagem, das quais apresentamos a seguir os pontos fundamentais e mais pertinentes para o nosso objetivo.
  • A linguagem como expressão do pensamento;
  • A linguagem como instrumento de comunicação, como meio objetivo para a comunicação;
  • A linguagem como forma ou processo de interação.


 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1° e 2° graus. -8.ed.- São Paulo: Cortez, 2002.

DA LÍNGUA AO DISCURSO: reflexões para o ensino.


A QUEM CABE ENSINAR A LEITURA E A ESCRITA?


- Saber português

"Saber português" tem servido para designar duas competências consideradas complementares:
  • O domínio da variedade da língua chamada padrão (popularmente, 'saber falar e escrever corretamente')
  • A aptidão para identificar os fatos da língua (suas unidades, construções e processos estruturais) mediante a nomenclatura oficial.
- O sentido social da língua que falamos

A primeira lição que podemos extrair das diferenças existentes são funcionais, que servem de meio de expressão e entendimento entre seus usuários. Compreender a diferença, ser capaz de analisá-la e saber lidar com ela nas relações interpessoais é o grande passo para uma bem sucedida política de ensino da leitura e da produção escrita na língua materna.

- A língua e os horizontes do nosso mundo

 O ser humano - todos sabemos - vive em pelo menos duas dimensões: 
  • Biológica, ele é igual a qualquer outro ser vivo: ingere alimentos, respira e se relaciona com o meio à sua volta através dos cinco sentidos: tato, audição, visão, olfato e paladar;
  • Cultural, ele é um ser que se transforma seu espaço e cria modos de existir.
- As Letras em busca de um rumo

A homogeneidade e universalidade que inspiram a concepção das obras didáticas até meados dos anos 60 deram lugar a uma dispersão incontrolável de propostas cujo denominador comum era a recusa da tradição. Os cursos de Letras começavam a se organizar como faculdades ou institutos em um contexto em que se punham em xeque o viés filológico e normativo do estudo/ensino tradicional da língua e o historicismo inerente à articulação épica/estilo dos estudos literários.

- Ensino da língua - uma tarefa da escola
A formação escolar consiste no processo pelo qual os indivíduos adquirem e constroem conhecimentos em diversas áreas do saber e para os mais variados fins da atividade sociocultural. 

- A importância dos textos

 A leitura e a expressão são habilidades que embasam e permeiam a construção do conhecimento em todas as áreas do saber. 
- O texto e suas formas
A importância da forma se impõe em certas situações de intencionalidade e/ou finalidade.

- Gêneros textuais

Os gêneros textuais são formas relativamente estáveis pelas quais a comunicação verbal se materializa nas diferentes práticas sociais, que são peças de comunicação direta e circunstancial para as saudações de estruturas mais complexas.
- Rigidez e flexibilidade dos gêneros textuais

A linguagem existe para a expressão do pensamento e não para aprisioná-lo em formas. O desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita são condições cruciais do êxito escolar em qualquer nível, que se dá num percurso longo e trabalhoso, que não pode prescindir da colaboração de todas as disciplinas que de alguma forma se apoiam na leitura e na construção de textos.


AZEREDO, José Carlos. A quem cabe ensinar a leitura e a escrita?

PAULIUKONIS, Maria Aparecida Lino; GAVAZZI, Sigrid. Da língua ao discurso: reflexões para o ensino. -2.ed.- Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.